
TDAH em Adultos: Sintomas, Impactos e o Papel da Família
- lucienedonato00
- 16 de mai.
- 4 min de leitura
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é frequentemente associado à infância, mas cerca de 60% dos casos persistem na vida adulta, muitas vezes sem o devido diagnóstico ou tratamento.
Nos adultos, os sintomas se manifestam de forma mais sutil, mas ainda assim trazem prejuízos significativos no trabalho, nos estudos, nos relacionamentos e na autoestima.
Principais Sintomas do TDAH em Adultos
1. Dificuldade de Atenção Sustentada
Desorganização crônica, esquecimento de compromissos, perda frequente de objetos.
Distração fácil em ambientes barulhentos ou cheios de estímulos.
Dificuldade em manter-se em uma tarefa por vez (“pipocar” de pensamentos).
2. Inquietação Mental e/ou Física
Sensação interna de agitação constante, mesmo quando parado.
Dificuldade para relaxar, resultando em fadiga e tensão.
Falar de forma acelerada, interromper os outros, mudar de assunto abruptamente.
3. Impulsividade Emocional e Comportamental
Tomar decisões precipitadas (gastos, mudanças sem planejamento).
Baixa tolerância à frustração, reações emocionais exageradas.
Comportamentos de risco (uso abusivo de álcool, conflitos interpessoais).
4. Dificuldades com Gestão do Tempo
“Time blindness” (percepção distorcida do tempo), levando a atrasos e procrastinação.
Problemas para estabelecer prioridades e concluir tarefas.
Impactos do TDAH Não Tratado
Sem diagnóstico ou tratamento, o adulto com TDAH frequentemente enfrenta:
Baixa autoestima (“sinto que não dou conta”).
Dificuldades para manter empregos e crescer profissionalmente.
Conflitos em relações familiares e afetivas.
Sensação de esgotamento por tentar compensar suas dificuldades.
A Visão Psicanalítica sobre o TDAH
A psicanálise não nega os aspectos neurobiológicos do TDAH, mas amplia a compreensão do fenômeno.
Para Freud, os sintomas não são falhas do organismo, mas formas inconscientes de lidar com conflitos internos.
No TDAH, a dificuldade em manter o foco ou controlar a impulsividade pode ser vista como uma tentativa de escapar da angústia que o vazio, a espera e a frustração provocam.
Lacan, ao falar da "falta estrutural" que habita todo sujeito, nos ajuda a pensar o TDAH como uma resposta psíquica à dificuldade de simbolizar essa falta.
A inquietação constante, física ou mental, seria uma forma de tamponar o desconforto psíquico, buscando alívio imediato no agir, no excesso, no movimento contínuo.
Na escuta psicanalítica, não se busca simplesmente “normalizar” o comportamento, mas sim compreender o sentido que o sintoma tem para aquele sujeito em sua singularidade.
A pergunta não é “como acabar com isso?”, mas “o que isso me diz sobre mim?”.
Assim, a psicanálise propõe um tratamento que não se limita ao controle dos sintomas, mas que visa permitir ao sujeito uma nova relação com seu desejo, com sua angústia e com os outros.
O Papel da Família e do Ambiente
Viver com TDAH não é um desafio individual: o ambiente familiar e social tem impacto direto na forma como a pessoa lida com seus sintomas.
A família, muitas vezes, não compreende a dimensão real do TDAH e interpreta sintomas como preguiça, desinteresse ou falta de compromisso.
Essa postura, além de injusta, aumenta a culpa e a baixa autoestima da pessoa com TDAH.
Por isso, a informação e o acolhimento familiar são fundamentais:
Reconhecer que o TDAH não é “falta de esforço”.
Evitar críticas moralizantes e julgamentos.
Oferecer ajuda na organização prática (sem infantilizar).
Valorizar pequenas conquistas.
Manter uma escuta respeitosa, sem minimizar o sofrimento.
O ambiente físico também precisa ser ajustado:
Espaços mais organizados e com menos estímulos facilitam a concentração.
Estabelecer rotinas claras e previsíveis diminui a sobrecarga.
Respeitar o ritmo individual, sem pressões desnecessárias, é essencial.
Do ponto de vista emocional, a família pode funcionar como suporte simbólico, ajudando o sujeito a sustentar seu lugar no mundo sem ser reduzido a um rótulo.
Além disso, buscar orientação familiar com psicólogos ou psicanalistas pode ser essencial para lidar com a dinâmica emocional envolvida.
Diagnóstico e Tratamento: Uma Abordagem Integrada
O diagnóstico do TDAH em adultos deve ser feito por profissionais especializados, analisando:
Sintomas desde a infância.
Condições clínicas associadas (depressão, ansiedade).
O impacto funcional no cotidiano.
O tratamento é multimodal, combinando:
Medicação (quando indicada).
Acompanhamento psicoterápico
Técnicas de organização e gestão do tempo.
Apoio familiar e educacional.
O tratamento do TDAH em adultos exige uma abordagem integrada, onde a medicação e a psicanálise ocupam papéis igualmente essenciais e complementares. A intervenção medicamentosa atua no alívio dos sintomas neurobiológicos, favorecendo a atenção, o controle da impulsividade e a regulação da energia psíquica, aspectos que impactam diretamente a qualidade de vida e o funcionamento cotidiano. Já a psicanálise oferece um espaço singular de escuta e elaboração, permitindo ao sujeito compreender o sentido de seus impasses, ressignificar sua relação com o sintoma e reescrever sua própria história para além dos rótulos diagnósticos. Não se trata de escolher entre um ou outro recurso, mas de reconhecer que a ação conjunta — no plano biológico e no plano subjetivo — é o que possibilita um tratamento verdadeiramente efetivo e humanizado.
Conclusão
O TDAH em adultos não é um defeito de caráter, nem preguiça, nem falta de força de vontade. É uma condição complexa, que envolve aspectos biológicos, emocionais e sociais.
O diagnóstico e o tratamento adequados permitem transformar o que hoje parece uma limitação em uma oportunidade de autoconhecimento e crescimento.
Família, ambiente e uma escuta qualificada são aliados essenciais nesse processo.
Se você se identificou com estas situações, busque ajuda especializada. Entender-se é o primeiro passo para transformar suas dificuldades em novos caminhos.
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