
Uma Geração Entorpecida: O Impacto dos Medicamentos Psiquiátricos na Emotividade Contemporânea
- lucienedonato00
- 23 de ago. de 2024
- 2 min de leitura
Luciene Donato Benevides
Psicóloga | Psicanalista
Em um mundo cada vez mais acelerado e exigente, o conceito de saúde mental ganha destaque, mas a abordagem adotada por muitos parece, paradoxalmente, entorpecer emoções. O uso crescente de medicamentos psiquiátricos tem gerado uma geração que enfrenta um dilema: a busca por controle emocional e estabilidade frequentemente resulta em um estado de adormecimento afetivo.
A sociedade contemporânea, marcada por pressões e expectativas, tem aliado sua vivência cotidiana à automedicação e ao uso de fármacos, como antidepressivos e ansiolíticos. Embora estes possam oferecer alívio temporário para sintomas como ansiedade e depressão, os efeitos colaterais e a dependência emocional gerada por essa prática são preocupantes. A sensação de superação de crises torna-se, muitas vezes, uma ilusão, fazendo com que os indivíduos estejam emocionalmente disponíveis apenas em um estado de artificialidade. Essa geração, assim, acaba por perder a conexão com suas emoções mais profundas, uma desconexão que pode se manifestar em um cotidiano monótono e desprovido de significados genuínos.
Sob o olhar da psicanálise, essa realidade é ainda mais alarmante. Freud já falava da importância dos afetos e da expressão emocional como mecanismos fundamentais para a saúde psíquica. Para o psicanalista, a psique humana é complexa e suas manifestações não podem ser simplesmente "apagadas" ou "mascaradas" por meio de medicamentos. A psicanálise defende que o sofrimento emocional, embora doloroso, é parte intrínseca da experiência humana. Ele é, afinal, um caminho de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal. O verdadeiro desafio reside na capacidade de enfrentar e elaborar esses conflitos internos, em vez de buscar uma solução rápida via fármacos.
Ademais, a psicanálise critica a cultura de consumo que permeia a medicina contemporânea. O acesso facilitado a medicamentos e a incessante busca por soluções rápidas contribuem para a banalização das questões emocionais. Problemas sérios de saúde mental são muitas vezes tratados como meras questões químicas, desconsiderando o rico universo de interpretações e significados que a psicanálise sempre enfatizou.
Os profissionais da psicanálise propõem uma abordagem que valoriza o espaço da escuta e da interpretação das dificuldades emocionais. Em vez de suprimir o sofrimento com pílulas, defende-se a exploração desses sentimentos, a negociação com os sintomas e a construção de um sentido mais profundo para as vivências.
Portanto, a reflexão sobre uma geração entorpecida nos leva a considerar não apenas as consequências do uso excessivo de medicamentos, mas também a urgência de promover um espaço de diálogo sobre saúde mental que priorize a subjetividade e a singularidade de cada indivíduo. É preciso redescobrir a importância de sentir e ser afetado, mesmo em meio a dores e angústias, para que possamos construir uma vida plena e significativa.
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